quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Tragédia em Santa Catarina

No último final de semana ouvimos da boca de Jesus o dramático evangelho do Juízo final (Mateus 25): Estive com fome, sede, frio, preso, sem abrigo, sem roupa… e me ajudastes. Precisamos rezar, mas é preciso fazer um pouco mais.

Há multidões na Bela Santa Catarina que passam dias sem comer… não há água potável. Sei muito bem o que isso significa, pois passei por esta situação em 1984, quando a casa de meus pais foi completamente tomada pelas águas. O pior são os dias após a enchente. Como nosso estado é cheio de montanhas, a chuva prolongada leva o barro para os rios e para dentro das casas. É como se fosse um vulcão de lavas frias. A maioria dos mortos nesta tragédia foi tomado de surpresa pela queda de algum morro. Não estamos falando de ocupação ilegal de morros. Em Pomerode uma pessoa morreu em sua casa, em meio à mata virgem… o morro literalmente se derreteu. O momento é de ajuda urgente.

Mas já está chegando o momento da reflexão. Conhecendo meu povo, sei que Santa Catarina se tornará para o mundo um exemplo de preservação ambiental e de luta pela ecologia. Quem quiser ajudar neste momento dramático, aqui vão alguns contatos seguros:

Doações em dinheiro, de qualquer parte do Brasil, podem ser feitas utilizando as contas bancárias a seguir:

FLORIANÓPOLIS:
Banco do Brasil, agência 3174-7, conta 17611-7, em nome de Ação Social Arquidiocesana/Flagelados SC 2008. Mais informações: (48) 3224.8776 ou pelo e-mail asa@arquifln.org.br

JOINVILLE:
Banco BESC, agência 014, c/c 130.786- 2. A campanha é promovida pela Associação Diocesana de Promoção Social. Mais informações: (47) 3451.3715/3716 ou pelo e-mail adipros@diocesejlle.com.br

BLUMENAU:
Banco Itaú Agencia 6407 c/c 07004-1 Cáritas - Diocese de Blumenau emergência”. Mais informações: (47) 3323.6952 ou 3322.4435 (cúria) ou pelo e-mail dioceseblumenau@terra.com.br

quinta-feira, 30 de outubro de 2008

As sete virtudes do líder amoroso


Quem ama dá a vida, faz-se presente. Quem ama vive em nome do Pai, que é a fonte de todo o amor; em nome do Filho, por quem todos nós somos amados; e em nome do Espírito Santo, que é o próprio amor de Deus derramado em nossos corações.
Um dos líderes amorosos que Jesus escolheu para segui-Lo chama-se Paulo. Este ano, estamos comemorando os 2 mil anos de nascimento deste grande homem da Igreja. Se Deus é amor e se somos filhos d'Ele, somos amor. Mas será que o amor está em nós o tempo todo? A resposta para essas questões encontrei na I Carta aos Coríntios.

Comecei a perguntar-me sobre essas coisas e isso me levou a escrever o livro “As sete virtudes do líder amoroso”. Ele surgiu do gosto amargo e da inquietude em responder a todas essas perguntas desafiadoras. O amor pode funcionar no mundo do comércio, das empresas e da indústria? Em que dimensão? Ou é apenas um princípio religioso que deve ser vivido privadamente no âmbito da família e da amizade. Mas negócios... bem, negócios à parte! Será?
Quando James C. Hunter escreveu seu best-seller “O Monge e o Executivo”, teve uma intuição genial sobre a essência da liderança: verdadeiro líder é aquele que tem autoridade e não simplesmente aquele que tem o poder. Com a autoridade, conseguimos influenciar as pessoas para que o grupo, de modo coeso, atinja os seus objetivos. Toda sociedade precisa de um líder. Toda empresa de sucesso tem, em sua história, alguém que soube exercer a liderança de um modo determinante e influenciou as pessoas em vista do bem comum.


"Amor não é apenas sentimento, nem se resume em práticas de caridade"

Ao propor a liderança amorosa, como caminho para a gestão de negócios, precisamos, antes de tudo, saber exatamente do que estamos falando. “Amor” é uma palavra desgastada pelo tempo, pelo uso e pelo abuso. Aquilo que significa "quase tudo" pode não significar "quase nada". Faço apenas duas advertências: amor não é apenas sentimento nem se resume em práticas de caridade. Os líderes amorosos devem possuir sete virtudes que descobri em meio a muito estudo, são elas: comunicação, confiança, solidariedade, paciência, discrição, honestidade e resiliência.

Pe. Joãozinho, scj

Foto: Wesley Almeida/ Canção Nova

terça-feira, 2 de setembro de 2008

Milagre Econômico?

Alguma coisa muito diferente está acontecendo neste mundo de meu Deus. Há sinais por toda parte de que os pobres do Brasil estão tendo mais comida e mais dinheiro. Agora dizem que o dinheiro não será mais suficiente para comprar a comida. Dizem até que a crise mundial é provocada pelo fato de que os pobres da China também estão tendo mais acesso aos bens fundamentais. Comem mais. Não é que comam muito. Recentemente o Banco Mundial promoveu uma conferência em Xangai sobre este tema. O premiê chinês Wen Jiabao revelou que seu país ainda tem 30 milhões de pessoas vivendo abaixo da linha da pobreza. Este número deve ser ainda maior, porque pobre por lá é considerado alguém que aqui chamaríamos de “miserável”.
Mesmo para um país com 1,3 bilhões de pessoas, este número é assustador. E pensar que a população da China hoje é maior do que toda a população do mundo em 1798, quando o economista inglês Thomas Malthus publicou sua obra “Ensaio Sobre o Princípio da População”. Basicamente este estudioso afirmava que a produção de alimentos no mundo crescia em progressão aritmética, enquanto a população crescia geometricamente. O princípio deu um susto em sua época, pois o resultado seria um colapso total de alimentos e uma crise de fome mundial. Malthus não previra a evolução dos meis de produção, pois não conheceu a revolução industrial. Chegaram os “tempos modernos” e inventamos a energia elétrica, a máquina a vapor, a lâmpada, o carro, o telefone, o avião. Tudo parecia resolvido. Malthus estava certo quanto ao crescimento da população. Hoje somos quase seis bilhões de humanos. Os adversários do malthusianismo afirmam de pés juntos que nossa capacidade de produzir alimentos é maior do que o crescimento populacional e que o problema mesmo seria a distribuição destes alimento. Este já seria um problema político. Algumas pesquisas indicam que um terço da população mundial consome 65% dos alimentos produzidos. Ou seja, dois terços devem se contentar com 35%.
Se os chineses começarem mesmo a comer mais os efeitos serão imediatos no mundo todo. Imagine que um franco e oito quilos de porco a mais por ano, para cada chinês teriam efeito na segurança alimentar do planeta. Veja só alguns cálculos de Mauro Lopes, especialista em agricultura da FGV. Para cada um destes frangos a mais são necessárias 5,6 milhões de toneladas de milho e 2,4 milhões de toneladas de soja. Para oito quilos de carne de porco a mais por chinês/ano, o mundo tem que produzir 21,5 milhões de toneladas de milho e 7,8 milhões de toneladas de soja. Onde a China compraria tanto milho? Os Estados Unidos exportam 60 milhões de toneladas por ano. Já podemos prever a explosão nos preços e a volta da inflação no mundo. Brasil e Argentina juntos não conseguem produzir todo o milho que a China precisará. Veja que estamos falando de um frango a mais por ano para cada chinês. Mas o dinheiro está aumentando na China e os chineses parecem estar dispostos a comer bem mais do que um franguinho por ano. Quem diria… os pobres terão finalmente terão dinheiro e não terão o que comprar. Seria de fato um milagre econômico ou o prenúncio da catástrofe?
O mundo todo consome os baratos produtos chineses. Mas quem os produziu para serem assim tão econômicos? Cidadãos que migraram do campo para as indústrias da cidade, que pagam mais (imagine!). Esta urbanização gerou uma alta no consumo de 39%. Isto é equivalente aos Estados Unidos em 1911. Mas o problema é que estes novos urbanos ganham mais e querem consumir o que já não produzem: alimentos! O efeito se fará sentir no mundo todo. Já se fala de alta no preço dos alimentos por aqui.
Já percebeu como aumentou o número de veículos em nossas ruas? Nossos pobres estão comendo melhor, comprando carro e telefone celular. Nada errado. Não sei se o Fome Zero deu certo. O Celular Zero certamente já superou suas metas. Agora temos pensar e rezar para que a justiça alimentar seja para o mundo inteiro, incluindo a grande China… que está mais perto que pensamos!

Pe. Joãozinho scj

Lei Seca

Como especialista em educação, sei que a melhor pedagogia não é aquela que prega o binômio “vigiar e punir”. O medo e o mérito nunca foram asmelhores motivações. Aprendemos de fato e mudamos o nosso comportamento quando as lições fazem sentido em nossa vida. O exemplo clássico é o da geografia. Quem ainda se lembra daquele número de capitais que decorou na 5ª série? Mas jamais esquecerei que Helsinki é capital da Finlândia, pois tive que esperar solitário naquele pais minha conexão aérea para o Japão.

Porém, nos que se refere à educação no trânsito estou repensando minhas convicções pedagógicas. Por mais que o poder público e as escolas insistam que beber e dirigir são duas coisas que não combinam, o fato é que as estatísticas apontam que grande parte dos acidentes de fim de semana são provocados pela mistura de álcool e volante.

A lei seca brasileira coloca como limite tolerável 2 decigramas de álcool por litro de sangue, ou seja, um chope. Em uma lista de 82 países que adotam a mesma postura legal, a nova lei brasileira é mais rígida que a de 63 naçõese mais tolerante que 13, aonde a tolerância é realmente zero. Quem for pego e acusado pelo tal do “bafômetro”, deverá pagar multa de R$ 955,00, além de perder a carteira por um ano e ter seu veículo apreendido. Se forem encontradas mais que 6 decigramas de alcool (dois chopes), o motorista poderá ser preso. A prisão varia de seis meses a três anos, dependendo da gravidade.

Para se ter uma idéia como a tolerância anda mesmo próxima de zero, na Califórnia, nos Estados Unidos, há uma lei que proíbe conduzir uma bicicleta se bebeu algum tipo de bebida alcoolica. Na Suiça se pensa em proibir o alcool não apenas para o motorista, mas para todos os passageiros, pois poderiam prejudicar o motorista. Estive recentemente na Espanha e acompanheipelo rádio o debate sobre a lei seca de lá. Eles também querem convencer os companheiros do motorista a o vigiarem para que não bebam. Ando por esse país afora e vejo que a lei, mais por medo que por convicção, está sendo respeitada. Em São Paulo criou-se até o “amigo da vez”. É aquele que na sexta-feira de happy hour não irá beber para poder dirigir. Outros donos de bares e restaurantes chegam a contratar motoristas para conduzir os carros dos clientes que “não resistiram à tentação”.

Logo surgiram as vozes contrárias à intolerância da lei. Muitos acham um exagero. Consideram que não faria nenhum mal tomar um chope. Outros acham que seria normal tomas dois chopes. Outros ainda acham que é inofensivo tomar cinco chopes… Mas os números são os maiores defensores da novidade. As pesquisas dizem que no Brasil um terço dos motoristas bebem antes de dirigir. Isso é seis vezes mais do que a média mundial. Outro número impressionante é que o alcool é responsável por 60% dos acidentes e aparece em 70% dos casos com mortes violentas. O Instituto Médico Legal de São Paulo estimou que em 2005, 44% dos .3.042 mortos em acidentes tinham alcool no sangue. Ou seja, metade dos mortos beberam antes de dirigir. Mais números: 290.000 pessoas dirigem alcoolizadas por dia no Brasil. A maioria das vítimas são invariavelmente homens. Quer mais números? Alguém dirigindo a 60 Kilômetros por hora precisa de 0,5 segundo para reagir a uma situação de risco. Neste meio segundo o carro terá andado 8 metros. Mas se o motorista tiver bebido duas latas de cerveja, provavelmente o deslocamento será de 17 metros, o que pode significar a perda da sua vida em uma violenta colisão. Estes números naturalmente variam de homem para mulher e também dependendo do peso da pessoa, de sua tolerância ao alcool e das circunstâncias em que tiver bebido (antes ou após as refeições). Mas não vale a pena fazer o teste. Pode ser o último. Os números não mentem.

Vamos terminar este artigo com incríveis números positivos. Menos de um mês depois de sancionada a lei seca os hospitais publicaram suas estatísticas. Do norte ao sul do país a queda nos atendimentos de acidentes graves foi mais que visível. Em Curitiba os atendimentos diminuiram em 30%. Em Sao Paulo o IML (Instituto Médico Legal) calculou em 57% a queda no número de mortes por acidentes de trânsito. O Rio de Janeiro calculou um queda semelhante a de São Paulo. Com isso, em menos de um mês os 30 hospitais públicos estaduais da região metropolitana de São Paulos economizaram cerca de R$ 4,5 milhões. Em um ano a economia será de R$ 54 milhões. Quem tiver ouvidos para ouvir ouça. Já temos a lei. Agora é preciso vigiar e punir!

Pe. Joãozinho scj

terça-feira, 5 de agosto de 2008

Novo livro: "As Sete Virtudes do Líder Amoroso"


Agora já é realidade e já posso divulgar. Acaba de ficar pronto meu novo livro. A partir do dia 04 de agosto já estará disponível nas melhores livrarias. Para os meus amigos e amigas de BLOG, disponibilizo hoje, em primeira mão, alguns trechos da introdução, para que você possa ter uma idéia de que é este novo livro.


AS SETE VIRTUDES DO LÍDER AMOROSO
Quando James C. Hunter escreveu seu Best Seller, O Monge e o Executivo, teve uma intuição genial sobre a “essência” da liderança: verdadeiro líder é aquele que tem autoridade e não simplesmente aquele que tem o poder. Com a autoridade conseguimos influenciar as pessoas para que o grupo, de modo coeso, atinja os seus objetivos. Toda sociedade precisa de um líder. Toda empresa de sucesso tem em sua história alguém que soube exercer a liderança de um modo determinante e influenciou as pessoas em vista do bem comum.

A QUESTÃO FUNDAMENTAL
A questão fundamental, portanto, é descobrir a dinâmica pela qual desenvolvemos nosso potencial de autoridade pessoal. Será que todos podemos ser líderes? Ou alguns estão fatalmente condenados a ser apenas liderados? Liderança seria puro carisma? Ou é 10% de inspiração e 90% de transpiração?O Monge sugere aos Executivos - que buscam a fórmula do sucesso para seus empreendimentos - atenção ao exemplo de Jesus Cristo. Sua autoridade era tão marcante que alguns chegavam a dizer: “Até o vento e o mar o obedecem”. Na verdade o próprio mestre revelou seu segredo quando ensinou seus seguidores que “aquele que quiser ser líder, deve ser o servo de todos”. Certamente esta não é uma lição apenas para os que querem um pedaço de terra no céu, mas pode iluminar o caminho dos que se dedicam a construir um pedaço do céu na terra.

LIDERANÇA SERVIDORA
A partir desta intuição assumida por Hunter em seu livro, o mundo corporativo começou a falar de liderança servidora. A fonte da autoridade seria, então, a disposição para servir. O líder servidor é alguém que é obedecido porque antes de mandar fazer ele já fez e sabe como se faz. Sua ordem não é arbitrária. Ele sabe que é possível pintar aquela parede daquele jeito e naquele espaço de tempo. Ele mesmo já pintou muitas paredes sem precisar mais do que duas horas para fazer todo o serviço. Agora ele pode liderar os seus pintores com autoridade.Mas Hunter deu um passo a mais. A origem e o fim da autoridade não pode ser simplesmente a habilidade para realizar tarefas. A liderança é construída em uma dimensão humana muito mais profunda: a atitude! O verdadeiro líder é reconhecido até pelo tom da voz. Ele não precisa insistir muito para que as pessoas fiquem persuadidas de que seu caminho é de fato o melhor. Ele inspira confiança ao grupo porque tem uma atitude de líder. A raiz desta atitude fundamental é o que poderíamos chamar de amor, ou seja, a disposição de doar-se, de dar a vida pelo grupo. Qualquer um de nós é capaz de reconhecer a sinceridade de alguém que está disposto a dar o sangue, o suor e as lágrimas pelo projeto da empresa.

LIDERANÇA AMOROSA
Aqui já não estamos somente no âmbito do líder servidor. É muito mais… Poderíamos, então, falar de líder amoroso. Parece que o próprio Jesus percebeu isso quando disse ao grupo mais restrito de seguidores: “Já não vos chamo servos, mas amigos!” Este é o caminho que pretendemos trilhar nestas páginas. Queremos descobrir de que modo a dinâmica do amor é determinante para encher qualquer pessoa de muita autoridade e garantir o sucesso dos seus empreendimentos. Em outras palavras: o amor pode ser um bom negócio?Hunter percebeu esta passagem do serviço para o amor e utilizou o trecho mais belo da Bíblia para tentar descrever o que de fato significa esta palavra tão utilizada nos poemas e romances, mas nem sempre com o mesmo significado. O Hino ao Amor, provavelmente foi escrito por Paulo de Tarso e está registrado no capítulo 13 da Carta aos Coríntios. Primeiro em O Monge e o Executivo (Capítulo 4) e, depois, no livro Como se tornar um líder servidor (Capítulo 4) o autor procura desvendar as virtudes que comporiam a personalidade do líder. Ao ler a sua reflexão encontrei outras virtudes que ultrapassam o âmbito do serviço e nos permitem agora falar de líder amoroso. Esta é a nossa contribuição original.

Pe Joãozinho scj

domingo, 27 de abril de 2008

O aborto e a violência doméstica

Acordo cedo nesta quarta-feira e vou para o momento de oração da comunidade. Após o café é hora de reorganizar a agenda. Ligo a TV e novamente escuto as mesma coisas sobre o caso da menina Isabella, que possivelmente teria sido mais uma vítima da violência doméstica. O caso tem movido as atenções do Brasil. É verdade que a mídia tem exagerado um pouco em um caso só. Especialistas afirmam que duas crianças são mortas por dia no Brasil dentro de suas próprias casas. Estes casos normalmente não ficam conhecidos nem mesmo pela vizinhança nas grandes cidades.
Mas gostaria de refletir sobre o caso Isabella em outra direção. É cuirioso assistir à fúria e indignação da população. As cenas são de julgamento imeditao. O culpado tem que ser achado, afinal a menina foi morta. Não podemos imaginar que um pai possa abrir uma rede de segurança e jogar sua própria filha do sexto andar, ainda com vida. Ainda que ela já estivesse morta é difícil imaginal um idéia tão louca.
Porém, ao mesmo tempo, corre em nosso legislativo uma insistente lei que aprova o aborto. É possível que muitos dos indignados com o caso Isabella sejam defensores ardorosos da morte de outras meninas sem nome que podem ser jogadas para fora do útero, rompida a rede de proteção. Quem apóia o aborto na verdade é tão vil quanto alguém que quisesse defender violentos castigos domésticos.
O aborto é uma forma de violência doméstica. Mas normalmente não tem sido visto assim. O que os olhos não vêm o coração não sente. Se víssemos o horror e a covardia de uma cena de aborto… se passasse na TV, certamente causaria uma comoção nacional. Há uma flagrante incoerêcia, não acha?

Pe Joãozinho scj

quarta-feira, 23 de abril de 2008

Os sete “Pês” do Pai-Nosso

Neste final de semana, em Barretos, estive meditando sobre a “prece” mais conhecida e bela que alguém já rezou, o pai-nosso, a oração que Jesus nos ensinou. Percebi que muitos segredos de salvação estão contidos nesta prece e começam com a letra “P”. Não que isso seja muito importante ou que esconda grandes segredos. Mas pode ser uma forma “prática” de gravar algumas lições que o Mestre de Nazaré nos deixou. A primeira parte fala do “Pai”, que é nosso, e a segunda parte fala do “pão”, que também é nosso. Uma parte aponta para o “paraíso” e a outra para a “planície”, ou seja, para a nossa terra, ou se preferir, com “p”, nosso “planeta”. Contei sete “pês” na oração do pai-nosso. Certamente uma leitura atenta vai encontrar muito mais. Deixo isso para a sua criatividade. Veja os que encontrei.

1. PAI - “Pai nosso…” Ao rezar esta oração partimos da certeza de que Deus é mais do que uma personalidade famosa, importante e distante. Ele é “Pai”, mora conosco e gosta de nos pegar no colo.

2. PARAÍSO - “…que estais no céu” O paraíso pode parecer um lugar distante, mas na verdade habita dentro do nosso coração. Deus plantou em nós uma semente de esperança. Podemos e devemos esperar contra toda esperança. Buscamos as coisas do alto, do céu, do paraíso. Temos certeza de que caminhamos para uma dimensão eterna. Por isso somos felizes mesmo na dor e no sofrimento.

3. PRECE - “…santificado seja o vosso nome” Santificar o nome de Deus é louvá-lo com palavras e gestos. Somos gente que reza, que conversa com Deus. Ele é o nosso pastor e não nos deixa faltar nada. Jesus nos ensinou a rezar sempre. Pedimos, louvamos, adoramos, meditamos, conversamos com nosso Pai do Paraíso com a intimidade de filhos e filhas.

4. PREPARAR-SE “venha a nós o vosso reino, seja feita a vossa vontade assim na terra como no céu” Não basta rezar. É preciso agir. Precisamos fazer a nossa parte e apressar o Reino do Amor, da justiça do perdão e da solidariedade. Deus fez o mundo em seis dias, descansou no sétimo e no oitavo nos deixou a tarefa de completar a obra da criação com nosso trabalho. Somos colaboradores de Deus nesta obra de cuidar da criação. Uma das formas de nos prepararmos é a “promoção” humana, principalmente para os “pobres”, “pequenos”, pecadores”, para todo o “povo de Deus”.

5. PÃO - “o pão nosso de cada dia nos dai hoje” Jesus inaugurou uma religião que não despreza a matéria. O Pai é nosso, mas o pão também é! Por isso lutamos para que ninguém tenha fome. Nosso Deus permanece conosco presente em uma migalha de pão, a Eucaristia. Valorizamos o corpo, a saúde, o lazer, a alimentação saudável, os exercícios físicos. Cuidar das coisas materiais é também uma forma de ser santo.

6. PERDÃO - “…perdoai as nossas ofensas assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido…” Uma as grandes lições que Jesus nos deixou é o perdão. Antes dele se falava de “olho por olho e dente por dente”. Isso gerava o círculo vicioso da vingança e da violência. Quem ama perdoa e quebra esta maldição. O perdão inaugura o círculo virtuoso da paz.

7. PAZ - “e não nos deixeis cair em tentação, mas livrai-nos do mal” O último “pê” é a grande busca da humanidade em toda a sua história: a paz! Ela não é apenas ausência de guerras e conflitos. É presença de comunhão e solidariedade de todos com Deus, de cada um com seu próximo e também com a natureza. Hoje precisamos tanto fazer as pazes com as florestas e com os animais. A paz é até mesmo harmonia consigo mesmo. Precisamos de paz interior.


Se você tiver alguma sugestão para este artigo, fique a vontade e faça seu comentário, quem sabe não me empolgo e faço desta idéia tão simples um livro. Desde já, muito obrigado.

Pe Joãozinho scj

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008

Síndrome da dispersão

Quando entrei para o seminário, em 1976, havia lá um formador que havia passado um tempo de estudos na Europa e voltara cheio de idéias. Uma de suas criatividades era um curioso “Catálogo de problemas pessoais”. Éramos todos garotos de sexta até oitava série. Tínhamos entre 13 e 15 anos de idade. Entrávamos na adolescência longe da família e precisávamos de um rumo. Ele inventou o tal “catálogo” com mais ou menos 300 problemas que um quase-jovem poderia enfrentar.

A orientação era a seguinte:

“- Se for um probleminha, tome um lápis e marque um X; se for um problema maior, coloque um círculo em torno do X. Se o problema for enorme coleque dois círculos. Quando for conversar com seu orientador, leve junto o seu caderno. Aos poucos você vai resolver seus problemas e poderá ir apagando os círculos até resolver um problema completamente e apagar até mesmo o X.”

Tenho este caderno até hoje, apesar de entender os evidentes limites da metodologia. Estes dias estive revirando velhos arquivos e dei de cara com a lista de problemas. Lá estava o meu maior problema daquele tempo, que até hoje permanece com dois círculos:

“Ser disperso, distraído”.

Lembro o quanto lutei contra esta tendência inata de estar sempre muito concentrado… mas não exatamente naquilo que é oportuno naquela hora. É só entrar na capela e começar a rezar que tenho idéias e mais idéias. No volante às vezes tenho que parar o carro para anotar a letra ou a melodia de alguma canção. Tive que estudar filosofia para entender que este aparente “defeito de fabricação” na verdade era uma grande qualidade se administrado do jeito certo. O pensador é alguém que consegue se distrair e se maravilhar com as coisas aparentemente mais irrelevantes. Quando começo a fazer uma pesquisa, preciso me distrair com o objeto pesquisado. Isto é, preciso o êxtase de quem se distrai.

Foram anos e mais anos procurando dominar este talento natural. Consegui algumas vitórias e descobri certos segredos da alma que faz silêncio, adora, aquieta-se e ama. Rezar é distrair-se com Deus. Rezamos quando ficamos distraidamente olhando um lago e nos colocamos no colo do criador de tudo aquilo. A distração pode terminar em louvor.

Mas existe também a síndrome da dispersão que pode matar a nossa saudável distração. Pensei que era uma luta minha, irremediavelmente distraído. Mas aos poucos percebo que vivemos em um mundo cada vez mais disperso. As pessoas entram em casa e não sabem cozinhar sem ligar a TV. Passam roupa distraídas com algum inútil programa de rádio que repete as mesmas baboseiras 24 horas todo dia. A juventude está cada vez mais dispersa na Internet. Este meio maravilhoso poderia ser utilizado para fazer milagres e alcançar mais e mais conhecimento. Mas entro na Lan House e vejo em um passar de vistas, todos os computadores plugados em programas de bate-papo no estilo MSN. A conversa não vai dois centímetros de profundidade, pois é preciso conversar com cinco ou seis pessoas ao mesmo tempo. Isso quando ao mesmo tempo não se está em alguma sala virtual e algum outro programa de relacionamento, ou ao mesmo tempo se alimenta sua página de Orkut. É uma doença. Pesquisas iniciais indicam que a Internet assim utilizada provoca dificuldade de concentração nos jovens estudantes.

Existem muitas armadilhas tecnológicas que podem capturar nossa concentração e nos deixar dispersos. Vejo pessoas que tentam trabalhar com um celular ao lado que toca a cada 10 minutos; o MSN e o Skype estão ligados e pessoas falam, falam, falam… um telefone convencional toca às vezes, um radio está ligado bem baixinho! É possível trabalhar assim? Nosso mundo está disperso. Nós latino-americanos somos tropicalmente quentes e temos por natureza climática mais dificuldade de concentração do que um alemão, por exemplo. Precisamos rever nossos conceitos. Não seria a hora de retomar o nosso “catálogo de problemas” e tentar apagar este X?

Quem sabe possamos começar fazendo um esforço de ficar meia hora em silêncio por dia. Parece simples, não é? Dizem que qualquer empresário que conseguir fazer isso terá sucesso. Por que não tentar?

Pe Joãozinho scj

quinta-feira, 10 de janeiro de 2008

Novo CD de pe. Joãozinho: "Ecce Venio - Sacerdote para sempre"


"O povo será amigo do padre e da Igreja quando o padre se tornar amigo do povo". (Pe. João Leão Dehon)


Inspirado no grande lema da vida do francês João Leão Dehon, fundador da Congregação dos Padres do Sagrado Coração de Jesus, Padre Joãozinho, quinze anos de sacerdócio, lança o 11º CD por Paulinas-Comep: Ecce Venio - Sacerdote para sempre. Mais uma vez, deixa explícito o lema que permanece inspirando todos os que, como ele, Pe. Anísio José e Pe Zezinho, participam da Família Dehoniana: Ecce Venio (em latim, 'eis-me aqui').
"Se você prestar bem atenção, nossos livros e canções têm esta marca registrada: somos padres do coração", avisa. "Faz algum tempo que este fogo queimava novas canções em meu interior", diz, apresentando o trabalho, também um resgate dos quinze anos dedicados à vida sacerdotal e à comunicação.

As canções são permeadas por citações bíblicas, com um pouco da história de dedicação, obediência, entrega e dilemas, que começou a ser escrita no despertar da vocação. Um bom exemplo entre as dez canções e dois mantras (em latim) deste CD, é "Prece do amor", composta quando tinha 15 anos e estudava em um seminário em Curitiba. "Foi meu jeito adolescente de fazer uma declaração de amor a Deus".
As inspirações continuaram aflorando ao longo da sua vida - em retiros, palestras, aulas, encontros... "Sacerdote para sempre", por exemplo, "é um resumo musical de minhas palestras. Nasceu em dezembro de 2006 durante um retiro de preparação para ordenação sacerdotal de alguns jovens, hoje espalhados pelo mundo afora".
Outro destaque, "Amigos mil", composição do Pe. Zezinho, é uma homenagem ao grande amigo que sempre o acompanhou. "Cada palavra dessa canção esconde um tesouro de verdade. Escute em silêncio... com o coração no colo de Deus, nosso maior amigo", sugere Pe. Joãozinho.

O CD começa e termina com a mesma melodia dos mantras, Ecce Venio, e, para finalizar, "Ecce Ancilia", o 'eis-me aqui' de Maria, ambos dos padres Joãozinho e Anísio José. "É muito mais do que o 'Eis-me aqui', é a marcante disponibilidade de Cristo que em tudo cumpriu a vontade do Pai. Para o Pe. Joãozinho, os mantras trazem uma proposta de harmonia e paz interior para quem os escuta. "Hoje, existe tanta música que nos desintegra, gera um caos dentro de nós. Espero que minhas canções tragam paz e harmonia interior".
Destaques, ainda, para "Eis-me aqui", tradução de "Eccomi", uma das músicas mais populares nas missas da Itália, escrita pelo jovem sacerdote Marco Frisina, maestro, músico e cantor, regente do coral do Vaticano.

quarta-feira, 9 de janeiro de 2008

O que significa ser “CATÓLICO”?

Um jovem me fez esta pergunta. Disse que há algum tempo está em crise de fé e tem buscado a solução em igrejas evangélicas. Em uma delas, ao confessar-se católico, ouviu dizer que a palavra “católico” nem sequer está na Bíblia. Ficou com esta dúvida intrigante. Queria uma resposta pois já estava começando a pensar que seus amigos tinham razão e que seria melhor mesmo mudar de igreja.

Pedi que ele abrisse a sua Bíblia no Evangelho de Mateus, capítulo 28, versículos 18b-20. Utilizarei aqui a tradução mais popular nas bíblias evangélicas (Almeida, corrigida e fiel):

“É-me dado todo o poder no céu e na terra. Portanto ide, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo; Ensinando-os a guardar todas as coisas que eu vos tenho mandado; e eis que eu estou convosco todos os dias, até a consumação dos séculos. Amém.”
Você percebeu que fiz questão de colocar em negrito uma palavrinha que aparece de modo insistente no texto: TODO. Jesus tem todo o poder; devemos anuncia-lo a todos os povos, guardar todo o seu ensinamento na certeza de que estará todos os dias conosco. Esta ordem de Jesus foi levada muito a sério pelos discípulos. Em grego a expressão “de acordo com o todo”, pode ser traduzida por “Kat-holon”. Daí vem a palavra “católico” (em grego seria: Καθολικός). Ao longo do primeiro e segundo séculos os seguidores de Jesus Cristo começaram a ser reconhecidos como “cristãos” e “católicos”. As duas palavras eram utilizadas indistintamente.

Ser católico já significava “ser plenamente cristão”. O catolicismo, portanto, é o cristianismo na sua “totalidade”. É a forma mais completa de obedecer o mandato do Mestre antes de sua volta para o Pai. O mesmo mandado pode ser lido no Evangelho de Marcos 16,15: “Ide e pregai o evangelho a toda criatura”. Há, portanto, uma catolicidade vertical, que é ter o Cristo todo, ou seja ser discípulo; e uma catolicidade horizontal, que é levar o Cristo a todos, ou seja, ser missionário. Isso é ser católico: totalmente discípulo, totalmente missionário, totalmente cristão!

Ao que tudo indica o termo “católico” se tornou mais popular a partir de Santo Inácio de Antioquia (discípulo de São João), pelo ano 110 dC. Pode significa tanto a “universalidade” da Igreja como a sua “autenticidade”. Quase na mesma época São Policarpo utilizava o termo “católico” também nestes dois sentidos. Santo Agostinho utilizou o termo “católico” mais de 240 vezes em seus escritos, entre 388-420. São Cirilo de Jerusalém (315-386), bispo e doutor da Igreja, dizia: “A Igreja é católica porque está espalhada por todo o mundo; ensina em plenitude toda a doutrina que a humanidade deve conhecer; conduz toda a humanidade à obediência religiosa; é a cura universal para o pecado e possui todas as virtudes” (Catechesis 18:23). Veja que já está bem claro os dois sentidos de “Católico” como “universal e ortodoxo”. Durante mil anos os dois significados estiveram unidos. Mas por volta do ano 1000 aconteceu um grande cisma que dividiu a igreja em “ocidental e oriental”. A Igreja do ocidente continuou a ser denominada “Católica” e a Igreja do oriente adotou o adjetivo de “Ortodoxa”. Na raiz as duas palavras remetem ao significado original de Igreja “autêntica”.

Santo Tomás de Aquino (1225-1274), grande teólogo ocidental, desenvolveu uma teologia da catolicidade. A Igreja seria “universal” em três sentidos: a) Está em todos os lugares (cf. Rm 1,8) e pode ser militante na Terra, padecente no purgatório e triunfante no céu; b) Inclui pessoas dos três estados de vida (Gal 3,28): leigos, religiosos e ministros ordenados; c) Não tem limite de tempo desde Abel até a consumação dos tempos.

A Igreja católica reconhece que cristãos de outras igrejas pode ter o batismo válido e possuir sementes da verdade em sua fé. Porém, sabe que apenas a Igreja católica conserva e ensina sem corrupção TODA a doutrina apostólica e possui TODOS os meios de salvação.

Devemos viver e promover a sensibilidade ecumênica promovendo a fraternidade com os irmãos que pensam ou vivem a fé cristã de um modo diferente. Mas isso não significa abrir mão de nossa catolicidade. Quando celebramos a Eucaristia seguimos à risca o mandato do Mestre que disse: “Fazei isso em memória de mim!” A falta da Eucaristia deixa uma grande lacuna em algumas Igrejas. Um pastor evangélico, certa vez, me disse que gostaria de rezar a ave-maria, mas por ser evangélico não conseguia. Perguntei por quê? Ele disse que se sentia incomodado toda vez que lia o Magnificat em que Maria proclama: “Todas as gerações me chamarão de bendita” (Lc 1,48)… e se questionava o por quê sua geração tão evangélica não faz parte desta geração que proclama bem-aventurada a Mãe do Salvador!

Realmente, ser católico é ser totalmente cristão!

pe. Joãozinho, scj