Alguma coisa muito diferente está acontecendo neste mundo de meu Deus. Há sinais por toda parte de que os pobres do Brasil estão tendo mais comida e mais dinheiro. Agora dizem que o dinheiro não será mais suficiente para comprar a comida. Dizem até que a crise mundial é provocada pelo fato de que os pobres da China também estão tendo mais acesso aos bens fundamentais. Comem mais. Não é que comam muito. Recentemente o Banco Mundial promoveu uma conferência em Xangai sobre este tema. O premiê chinês Wen Jiabao revelou que seu país ainda tem 30 milhões de pessoas vivendo abaixo da linha da pobreza. Este número deve ser ainda maior, porque pobre por lá é considerado alguém que aqui chamaríamos de “miserável”.
Mesmo para um país com 1,3 bilhões de pessoas, este número é assustador. E pensar que a população da China hoje é maior do que toda a população do mundo em 1798, quando o economista inglês Thomas Malthus publicou sua obra “Ensaio Sobre o Princípio da População”. Basicamente este estudioso afirmava que a produção de alimentos no mundo crescia em progressão aritmética, enquanto a população crescia geometricamente. O princípio deu um susto em sua época, pois o resultado seria um colapso total de alimentos e uma crise de fome mundial. Malthus não previra a evolução dos meis de produção, pois não conheceu a revolução industrial. Chegaram os “tempos modernos” e inventamos a energia elétrica, a máquina a vapor, a lâmpada, o carro, o telefone, o avião. Tudo parecia resolvido. Malthus estava certo quanto ao crescimento da população. Hoje somos quase seis bilhões de humanos. Os adversários do malthusianismo afirmam de pés juntos que nossa capacidade de produzir alimentos é maior do que o crescimento populacional e que o problema mesmo seria a distribuição destes alimento. Este já seria um problema político. Algumas pesquisas indicam que um terço da população mundial consome 65% dos alimentos produzidos. Ou seja, dois terços devem se contentar com 35%.
Se os chineses começarem mesmo a comer mais os efeitos serão imediatos no mundo todo. Imagine que um franco e oito quilos de porco a mais por ano, para cada chinês teriam efeito na segurança alimentar do planeta. Veja só alguns cálculos de Mauro Lopes, especialista em agricultura da FGV. Para cada um destes frangos a mais são necessárias 5,6 milhões de toneladas de milho e 2,4 milhões de toneladas de soja. Para oito quilos de carne de porco a mais por chinês/ano, o mundo tem que produzir 21,5 milhões de toneladas de milho e 7,8 milhões de toneladas de soja. Onde a China compraria tanto milho? Os Estados Unidos exportam 60 milhões de toneladas por ano. Já podemos prever a explosão nos preços e a volta da inflação no mundo. Brasil e Argentina juntos não conseguem produzir todo o milho que a China precisará. Veja que estamos falando de um frango a mais por ano para cada chinês. Mas o dinheiro está aumentando na China e os chineses parecem estar dispostos a comer bem mais do que um franguinho por ano. Quem diria… os pobres terão finalmente terão dinheiro e não terão o que comprar. Seria de fato um milagre econômico ou o prenúncio da catástrofe?
O mundo todo consome os baratos produtos chineses. Mas quem os produziu para serem assim tão econômicos? Cidadãos que migraram do campo para as indústrias da cidade, que pagam mais (imagine!). Esta urbanização gerou uma alta no consumo de 39%. Isto é equivalente aos Estados Unidos em 1911. Mas o problema é que estes novos urbanos ganham mais e querem consumir o que já não produzem: alimentos! O efeito se fará sentir no mundo todo. Já se fala de alta no preço dos alimentos por aqui.
Já percebeu como aumentou o número de veículos em nossas ruas? Nossos pobres estão comendo melhor, comprando carro e telefone celular. Nada errado. Não sei se o Fome Zero deu certo. O Celular Zero certamente já superou suas metas. Agora temos pensar e rezar para que a justiça alimentar seja para o mundo inteiro, incluindo a grande China… que está mais perto que pensamos!
Pe. Joãozinho scj
terça-feira, 2 de setembro de 2008
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