Como especialista em educação, sei que a melhor pedagogia não é aquela que prega o binômio “vigiar e punir”. O medo e o mérito nunca foram asmelhores motivações. Aprendemos de fato e mudamos o nosso comportamento quando as lições fazem sentido em nossa vida. O exemplo clássico é o da geografia. Quem ainda se lembra daquele número de capitais que decorou na 5ª série? Mas jamais esquecerei que Helsinki é capital da Finlândia, pois tive que esperar solitário naquele pais minha conexão aérea para o Japão.
Porém, nos que se refere à educação no trânsito estou repensando minhas convicções pedagógicas. Por mais que o poder público e as escolas insistam que beber e dirigir são duas coisas que não combinam, o fato é que as estatísticas apontam que grande parte dos acidentes de fim de semana são provocados pela mistura de álcool e volante.
A lei seca brasileira coloca como limite tolerável 2 decigramas de álcool por litro de sangue, ou seja, um chope. Em uma lista de 82 países que adotam a mesma postura legal, a nova lei brasileira é mais rígida que a de 63 naçõese mais tolerante que 13, aonde a tolerância é realmente zero. Quem for pego e acusado pelo tal do “bafômetro”, deverá pagar multa de R$ 955,00, além de perder a carteira por um ano e ter seu veículo apreendido. Se forem encontradas mais que 6 decigramas de alcool (dois chopes), o motorista poderá ser preso. A prisão varia de seis meses a três anos, dependendo da gravidade.
Para se ter uma idéia como a tolerância anda mesmo próxima de zero, na Califórnia, nos Estados Unidos, há uma lei que proíbe conduzir uma bicicleta se bebeu algum tipo de bebida alcoolica. Na Suiça se pensa em proibir o alcool não apenas para o motorista, mas para todos os passageiros, pois poderiam prejudicar o motorista. Estive recentemente na Espanha e acompanheipelo rádio o debate sobre a lei seca de lá. Eles também querem convencer os companheiros do motorista a o vigiarem para que não bebam. Ando por esse país afora e vejo que a lei, mais por medo que por convicção, está sendo respeitada. Em São Paulo criou-se até o “amigo da vez”. É aquele que na sexta-feira de happy hour não irá beber para poder dirigir. Outros donos de bares e restaurantes chegam a contratar motoristas para conduzir os carros dos clientes que “não resistiram à tentação”.
Logo surgiram as vozes contrárias à intolerância da lei. Muitos acham um exagero. Consideram que não faria nenhum mal tomar um chope. Outros acham que seria normal tomas dois chopes. Outros ainda acham que é inofensivo tomar cinco chopes… Mas os números são os maiores defensores da novidade. As pesquisas dizem que no Brasil um terço dos motoristas bebem antes de dirigir. Isso é seis vezes mais do que a média mundial. Outro número impressionante é que o alcool é responsável por 60% dos acidentes e aparece em 70% dos casos com mortes violentas. O Instituto Médico Legal de São Paulo estimou que em 2005, 44% dos .3.042 mortos em acidentes tinham alcool no sangue. Ou seja, metade dos mortos beberam antes de dirigir. Mais números: 290.000 pessoas dirigem alcoolizadas por dia no Brasil. A maioria das vítimas são invariavelmente homens. Quer mais números? Alguém dirigindo a 60 Kilômetros por hora precisa de 0,5 segundo para reagir a uma situação de risco. Neste meio segundo o carro terá andado 8 metros. Mas se o motorista tiver bebido duas latas de cerveja, provavelmente o deslocamento será de 17 metros, o que pode significar a perda da sua vida em uma violenta colisão. Estes números naturalmente variam de homem para mulher e também dependendo do peso da pessoa, de sua tolerância ao alcool e das circunstâncias em que tiver bebido (antes ou após as refeições). Mas não vale a pena fazer o teste. Pode ser o último. Os números não mentem.
Vamos terminar este artigo com incríveis números positivos. Menos de um mês depois de sancionada a lei seca os hospitais publicaram suas estatísticas. Do norte ao sul do país a queda nos atendimentos de acidentes graves foi mais que visível. Em Curitiba os atendimentos diminuiram em 30%. Em Sao Paulo o IML (Instituto Médico Legal) calculou em 57% a queda no número de mortes por acidentes de trânsito. O Rio de Janeiro calculou um queda semelhante a de São Paulo. Com isso, em menos de um mês os 30 hospitais públicos estaduais da região metropolitana de São Paulos economizaram cerca de R$ 4,5 milhões. Em um ano a economia será de R$ 54 milhões. Quem tiver ouvidos para ouvir ouça. Já temos a lei. Agora é preciso vigiar e punir!
Pe. Joãozinho scj
terça-feira, 2 de setembro de 2008
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário