terça-feira, 2 de setembro de 2008

Milagre Econômico?

Alguma coisa muito diferente está acontecendo neste mundo de meu Deus. Há sinais por toda parte de que os pobres do Brasil estão tendo mais comida e mais dinheiro. Agora dizem que o dinheiro não será mais suficiente para comprar a comida. Dizem até que a crise mundial é provocada pelo fato de que os pobres da China também estão tendo mais acesso aos bens fundamentais. Comem mais. Não é que comam muito. Recentemente o Banco Mundial promoveu uma conferência em Xangai sobre este tema. O premiê chinês Wen Jiabao revelou que seu país ainda tem 30 milhões de pessoas vivendo abaixo da linha da pobreza. Este número deve ser ainda maior, porque pobre por lá é considerado alguém que aqui chamaríamos de “miserável”.
Mesmo para um país com 1,3 bilhões de pessoas, este número é assustador. E pensar que a população da China hoje é maior do que toda a população do mundo em 1798, quando o economista inglês Thomas Malthus publicou sua obra “Ensaio Sobre o Princípio da População”. Basicamente este estudioso afirmava que a produção de alimentos no mundo crescia em progressão aritmética, enquanto a população crescia geometricamente. O princípio deu um susto em sua época, pois o resultado seria um colapso total de alimentos e uma crise de fome mundial. Malthus não previra a evolução dos meis de produção, pois não conheceu a revolução industrial. Chegaram os “tempos modernos” e inventamos a energia elétrica, a máquina a vapor, a lâmpada, o carro, o telefone, o avião. Tudo parecia resolvido. Malthus estava certo quanto ao crescimento da população. Hoje somos quase seis bilhões de humanos. Os adversários do malthusianismo afirmam de pés juntos que nossa capacidade de produzir alimentos é maior do que o crescimento populacional e que o problema mesmo seria a distribuição destes alimento. Este já seria um problema político. Algumas pesquisas indicam que um terço da população mundial consome 65% dos alimentos produzidos. Ou seja, dois terços devem se contentar com 35%.
Se os chineses começarem mesmo a comer mais os efeitos serão imediatos no mundo todo. Imagine que um franco e oito quilos de porco a mais por ano, para cada chinês teriam efeito na segurança alimentar do planeta. Veja só alguns cálculos de Mauro Lopes, especialista em agricultura da FGV. Para cada um destes frangos a mais são necessárias 5,6 milhões de toneladas de milho e 2,4 milhões de toneladas de soja. Para oito quilos de carne de porco a mais por chinês/ano, o mundo tem que produzir 21,5 milhões de toneladas de milho e 7,8 milhões de toneladas de soja. Onde a China compraria tanto milho? Os Estados Unidos exportam 60 milhões de toneladas por ano. Já podemos prever a explosão nos preços e a volta da inflação no mundo. Brasil e Argentina juntos não conseguem produzir todo o milho que a China precisará. Veja que estamos falando de um frango a mais por ano para cada chinês. Mas o dinheiro está aumentando na China e os chineses parecem estar dispostos a comer bem mais do que um franguinho por ano. Quem diria… os pobres terão finalmente terão dinheiro e não terão o que comprar. Seria de fato um milagre econômico ou o prenúncio da catástrofe?
O mundo todo consome os baratos produtos chineses. Mas quem os produziu para serem assim tão econômicos? Cidadãos que migraram do campo para as indústrias da cidade, que pagam mais (imagine!). Esta urbanização gerou uma alta no consumo de 39%. Isto é equivalente aos Estados Unidos em 1911. Mas o problema é que estes novos urbanos ganham mais e querem consumir o que já não produzem: alimentos! O efeito se fará sentir no mundo todo. Já se fala de alta no preço dos alimentos por aqui.
Já percebeu como aumentou o número de veículos em nossas ruas? Nossos pobres estão comendo melhor, comprando carro e telefone celular. Nada errado. Não sei se o Fome Zero deu certo. O Celular Zero certamente já superou suas metas. Agora temos pensar e rezar para que a justiça alimentar seja para o mundo inteiro, incluindo a grande China… que está mais perto que pensamos!

Pe. Joãozinho scj

Lei Seca

Como especialista em educação, sei que a melhor pedagogia não é aquela que prega o binômio “vigiar e punir”. O medo e o mérito nunca foram asmelhores motivações. Aprendemos de fato e mudamos o nosso comportamento quando as lições fazem sentido em nossa vida. O exemplo clássico é o da geografia. Quem ainda se lembra daquele número de capitais que decorou na 5ª série? Mas jamais esquecerei que Helsinki é capital da Finlândia, pois tive que esperar solitário naquele pais minha conexão aérea para o Japão.

Porém, nos que se refere à educação no trânsito estou repensando minhas convicções pedagógicas. Por mais que o poder público e as escolas insistam que beber e dirigir são duas coisas que não combinam, o fato é que as estatísticas apontam que grande parte dos acidentes de fim de semana são provocados pela mistura de álcool e volante.

A lei seca brasileira coloca como limite tolerável 2 decigramas de álcool por litro de sangue, ou seja, um chope. Em uma lista de 82 países que adotam a mesma postura legal, a nova lei brasileira é mais rígida que a de 63 naçõese mais tolerante que 13, aonde a tolerância é realmente zero. Quem for pego e acusado pelo tal do “bafômetro”, deverá pagar multa de R$ 955,00, além de perder a carteira por um ano e ter seu veículo apreendido. Se forem encontradas mais que 6 decigramas de alcool (dois chopes), o motorista poderá ser preso. A prisão varia de seis meses a três anos, dependendo da gravidade.

Para se ter uma idéia como a tolerância anda mesmo próxima de zero, na Califórnia, nos Estados Unidos, há uma lei que proíbe conduzir uma bicicleta se bebeu algum tipo de bebida alcoolica. Na Suiça se pensa em proibir o alcool não apenas para o motorista, mas para todos os passageiros, pois poderiam prejudicar o motorista. Estive recentemente na Espanha e acompanheipelo rádio o debate sobre a lei seca de lá. Eles também querem convencer os companheiros do motorista a o vigiarem para que não bebam. Ando por esse país afora e vejo que a lei, mais por medo que por convicção, está sendo respeitada. Em São Paulo criou-se até o “amigo da vez”. É aquele que na sexta-feira de happy hour não irá beber para poder dirigir. Outros donos de bares e restaurantes chegam a contratar motoristas para conduzir os carros dos clientes que “não resistiram à tentação”.

Logo surgiram as vozes contrárias à intolerância da lei. Muitos acham um exagero. Consideram que não faria nenhum mal tomar um chope. Outros acham que seria normal tomas dois chopes. Outros ainda acham que é inofensivo tomar cinco chopes… Mas os números são os maiores defensores da novidade. As pesquisas dizem que no Brasil um terço dos motoristas bebem antes de dirigir. Isso é seis vezes mais do que a média mundial. Outro número impressionante é que o alcool é responsável por 60% dos acidentes e aparece em 70% dos casos com mortes violentas. O Instituto Médico Legal de São Paulo estimou que em 2005, 44% dos .3.042 mortos em acidentes tinham alcool no sangue. Ou seja, metade dos mortos beberam antes de dirigir. Mais números: 290.000 pessoas dirigem alcoolizadas por dia no Brasil. A maioria das vítimas são invariavelmente homens. Quer mais números? Alguém dirigindo a 60 Kilômetros por hora precisa de 0,5 segundo para reagir a uma situação de risco. Neste meio segundo o carro terá andado 8 metros. Mas se o motorista tiver bebido duas latas de cerveja, provavelmente o deslocamento será de 17 metros, o que pode significar a perda da sua vida em uma violenta colisão. Estes números naturalmente variam de homem para mulher e também dependendo do peso da pessoa, de sua tolerância ao alcool e das circunstâncias em que tiver bebido (antes ou após as refeições). Mas não vale a pena fazer o teste. Pode ser o último. Os números não mentem.

Vamos terminar este artigo com incríveis números positivos. Menos de um mês depois de sancionada a lei seca os hospitais publicaram suas estatísticas. Do norte ao sul do país a queda nos atendimentos de acidentes graves foi mais que visível. Em Curitiba os atendimentos diminuiram em 30%. Em Sao Paulo o IML (Instituto Médico Legal) calculou em 57% a queda no número de mortes por acidentes de trânsito. O Rio de Janeiro calculou um queda semelhante a de São Paulo. Com isso, em menos de um mês os 30 hospitais públicos estaduais da região metropolitana de São Paulos economizaram cerca de R$ 4,5 milhões. Em um ano a economia será de R$ 54 milhões. Quem tiver ouvidos para ouvir ouça. Já temos a lei. Agora é preciso vigiar e punir!

Pe. Joãozinho scj